26.2.07

Yousuf Karsh e Hemingway

O Papá Hemingway acompanha-me desde rapaz. Diante da masseira de padeiro onde estou a escrever, tenho uma fotografia dele que o mostra com uma grossa camisola de lã, e vêem-se-lhe no rosto todas as marcas que a vida lhe foi talhando.
Luis Sepúlveda, As Rosas de Atacama


Referir-se-á Luis Sepúlveda ao famoso retrato do escritor norte-americano realizado por Yousuf Karsh (1908-2002 ) em 1957?


Yousuf Karsh, Ernest Hemingway, 1957


Os sinais são visíveis. A camisola de lã e as rugas do escritor, realçadas pela iluminação contrastada, tão característica de Karsh. Ernest Hemingway, velho e com rosto de marinheiro, faces tisnadas pelo sol e pelo sal, acompanha Sepúlveda desde rapaz, ditando-lhe frases curtas que o escritor chileno arranja em pequenas histórias, de toureiros e canalhas, de heróis e cobardes, de comboios e baleias, e de outros velhos, velhos que não escrevem romances. Mas lêem.
Yousuf Karsh, nascido na Arménia, em 1908, foi o grande retratista, de matriz clássica, do século XX. Como um pintor renanscentista, Karsh retratou alguns dos estadistas mais poderosos e influentes da sua época. Com traços de pós-modernidade, repetiu formas passadas e vampirizou a imagem dos seus colegas artistas: os pintores Pablo Picasso e Juan Miró, o arquitecto Frank Lloyd Wright, o escultor Alberto Giacometti, o compositor Jan Sibelius, o poeta George Bernard Shaw, o fotógrafo Ansel Adams e o cineasta Cecil B. de Mille foram alguns dos ilustres criadores que posaram para a câmara de Karsh.Com um apuramento técnico invejável, Karsh trabalhava a composição da imagem, aproveitando a expressão, o porte e a indumentária do retratado para, em conjunto com o ambiente circundante, realizar imagens poderosas, psicologicamente complexas e de uma intemporalidade que a abordagem clássica ajudou a forjar.
A iluminação, aparentando origem natural nalguns retratos, é o resultado de um cuidadoso trabalho com uma ou mais fontes de iluminação artificial, as quais ajudavam o artista a criar a ambiência, a textura e a suavidade adequadas à figura que se mostrava perante a sua câmara. Compare-se a luz de Ernest Hemingway, dura, sincera, quase trágica, com o ambiente delicado que o fotógrafo criou para Audrey Hepburn, realçando a silhueta elegante e os cabelos negros e lisos com um fundo claro e intensamente iluminado. Karsh esculpiu Hemingway em rocha, criou-lhe uma imagem, um ícone que lhe sobreviveu e que prolongou o mito. Audrey Hepburn foi desenhada a traço firme e rigoroso, bidimensional, como o são tantos actores quando despem a pele de complexas personagens, ou quando deficientemente as vestem. Yousuf Karsh transformou Hepburn na sua boneca de luxo.

Carlos Miguel Fernandes

22.2.07

Cursos de Fotografia

Já estão abertas as inscrições para o Curso de Iniciação, cujo início está marcado para dia 12 de Março. As informações detalhadas podem ser encontradas na página do NAF.

NAF

16.2.07

Lisboa, Cidade Triste e Alegre

Lisboa, Cidade Triste e Alegre, um clássico da Fotografia portuguesa, aqui, no blogue da Associação Portuguesa de Photographia.

Carlos Miguel Fernandes

13.2.07

A História do NAF


Há dois documentos que sobreviveram à passagem dos anos e ao carácter errante do Núcleo. O primeiro data de 1950 e descreve-nos o contacto — cujo assunto parece estar relacionado com a aquisição de material fotográfico — entre uma empresa do ramo da fotografia e cinema e a Associação de Estudantes do IST. Em 1956 o Almanaque Português de Fotografia já se dirigia ao “Director da Secção de Fotografia da A.E.I.S.T” (ver imagem). Entre estas duas datas ter-se-á criado a Secção, antecessora daquilo que hoje conhecemos como Núcleo de Arte Fotográfica (NAF). Mas, se o início da História do NAF se esbate no tempo, nas décadas que se seguem o problema adensa-se, e a documentação parece estar perdida. A partir de 1991 posso contar a História na primeira pessoa, mas urge completar o quadro, sob o risco de os primeiros quarenta anos do Núcleo ficarem para sempre perdidos. Quem por lá passou? Que exposições foram organizadas pelo NAF? Que impacto teve na Fotografia portuguesa? Se algum leitor tiver dados ou histórias que me ajudem a acrescentar algo a esta narrativa tão incompleta, pedia-lhe (agradecendo desde já) que me contactasse através do endereço de correio electrónico do NAF (naf.ist@gmail.com).


Carlos Miguel Fernandes

6.2.07

INGenuidades

A inauguração acontece na próxima quinta-feira, e a exposição ficará aberta ao público até ao dia 29 de Abril na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian. Falo de INGenuidades, a mais recente criação de Jorge Calado. Reunindo cerca de 350 imagens de mais de 150 fotógrafos, a exposição percorre a História da Fotografia sob o pretexto da Engenharia. Uma homenagem à liberdade e génio criativo dos cientistas e engenheiros, são palavras do comissário. Herdeiro directo dos grandes curadores do século XX, que tiveram em Edward Steichen e The Family of Man (MoMA, New York, 1955) a maior referência, Jorge Calado habituou-nos a realizações colossais, com qualidades raramente vistas em Portugal. Foi assim com À Prova de Água (CCB, Lisboa, 1998), uma exposição épica na linha de INGenuidades, com Terra Bendita (Arquivo Municipal de Lisboa, 2000), e com mostras individuais, como aquelas que foram dedicadas aos trabalhos de José M. Rodrigues (Ofertório, Culturgest, Lisboa, 1999) e Wolfgang Sievers (Linha de Vida, Arquivo Municipal de Lisboa, 2000). Por estes e outros exemplos passados, não é excessivo nem descabido dizer que estamos prestes a receber o acontecimento fotográfico do ano, para o qual tenho a honra de contribuir com uma imagem.


Thomas Weinberger, Cracker, Esso Raffinerie, 2003

Carlos Miguel Fernandes

4.2.07

Daniel Kazimierski e o Palácio da Cultura e Ciência de Varsóvia

Daniel Kazimierski nasceu em Varsóvia em 1949 e vive em Nova Iorque há vinte e cinco anos. É fotógrafo, professor de Fotografia e especialista em processos de impressão clássicos. Em 2005, por ocasião do quinquagésimo aniversário do Palácio da Cultura e Ciência de Varsóvia, publicou o livro mój patac/my palace, o qual reúne imagens do controverso edifício — oferecido por Estaline à capital polaca — realizadas com uma câmara estenopeica (ou pinhole). (O livro está disponível na Amazon mas o preço é muito mais simpático na Polónia. Se estiverem por perto...)


Daniel Kazimierski, moj patac


Carlos Miguel Fernandes