19.6.07

Informações

1. A exposição do curso superior de Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar inaugura na próxima quinta-feira, dia 21 de Junho, às 19 horas, no Arquivo Municipal de Lisboa. A exposição estará aberta ao público até ao dia 31 de Julho, de 3ª feira a sábado, das 10 às 19 horas.

2. No próximo sábado, dia 23, das 10 às 22 horas, realizar-se-á a 1ª Maratona de Fotografia Digital de Alfama, organizada pela Associação do Património e da População de Alfama. Para mais informações podem consultar a página da Associação em http://www.app-alfama.org/

NAF

16.6.07

As Livrarias de Berlim

Vamos começar pela Exlibris. Podem encontrá-la na Reinhardtstrasse, uma rua perpendicular à Friedrichstrasse, na extremidade norte da extensa via que liga o Kreuzberg ao Mitte. (Confesso o meu fascínio pela zona de confluência entre a Friedrichstrasse e a Oranienburger Strasse, e tenho as minhas razões.) Já conhecia a Exlibris de outras viagens, e de lá veio um livro de August Sander (1876-1964). Desta vez encontrei a livraria numa simpática fase de promoção do seu extenso catálogo de livros de fotografia.

De Berlin — Photographien 1880-1930 já falei aqui em baixo. O livro acolhe cem fotografias de Berlim tiradas entre 1871 e 1931 por F. Albert Schwartz (1836-1906), Hermann Rückwardt (1845-1919), Waldemar Titzenthaler (1869-1937) e Max Missmann (1874-1945), entre outros fotógrafos, alguns, provavelmente, anónimos. São retratos de uma cidade que já não existe, um lugar burguês, arrebatador e vibrante que começou a definhar em 1933, e que morreu em 1944 sob a espada impiedosa do Aliados. Podia ter ressuscitado, como tantas outras cidades, arrasadas e reerguidas, numa espécie de hino perverso à estupidez e grandeza humanas. Mas ficou refém da estupidez durante mais quarenta anos. Em 1989 o Muro desapareceu, e uma nova cidade começou a nascer a partir da longa faixa urbana que antes era “terra de ninguém”. É essa cidade em metamorfose que Gabriele Basilico nos mostra no livro Berlin, editado em 2002 (as imagens são de 2001), e prémio Photoespaña do melhor livro de fotografia desse ano.
Goste-se ou não do trabalho de Gabriele Basilico (e eu gosto!), temos de reconhecer que Berlin é um objecto belíssimo que mereceu o prémio Photoespaña (o mesmo que este ano foi atribuído ao português Daniel Blaufuks). Capa dura, lombada elegante e 138 fotografias reproduzidas de forma irrepreensível. E o prefácio é, pelo menos, original: uma conversa telefónica entre Basilico, Hans Ulrich Obrist e Stefano Boeri. Nas fotografias, Gabriele Basilico mostra-nos uma cidade que só tem seis anos mas já pertence ao passado. É assim com as cidades em construção: o que se fotografa hoje já é matéria de estudo amanhã.

Eterna parece ser a Nova Iorque de David Bradford, um taxista-fotógrafo, que em 1996 editou Drive-By Shootings — Photographs by a New York Taxi Driver. Bradford leva-nos numa longa viagem pelas ruas de Nova Iorque, e as janelas do seu carro são como uma tela onde corre um filme que há muito conhecemos. Gerswhin e Sinatra compõem uma banda sonora imaginária, e enquanto folheamos as quinhentas páginas de Drive-By Shootings vêm-nos à memória umas frases que um pai diz para um filho em The 25th Hour, de Spike Lee: You're a New Yorker. That will never change. You've got New York in your bones. Todos temos Nova Iorque a correr-nos nas veias, e ainda mais depois da queda das torres nos mostrar que afinal não há cidades eternas.

O último livro da Exlibris é Photography: Crisis of History, uma colectânea de ensaios coordenada por Joan Fontcuberta. (Um dos textos é de Teresa Siza.) Por este, e pelos três livros descritos atrás, gastou-se 37 euros. Não se pode dizer que tenha sido caro.


Pouco depois de sair da Exlibris descobri a Gawronski Buchhandlung, situada no número 119 da Friedrichstrasse (na Friedrichstrasse, dada a dimensão da rua, é importante saber do número da porta dos lugares que procuramos), e que estranhamente me passou ao lado nas anteriores deslocações a Berlim. Tal como a Exlibris, a Gawronski é especializada em livros de arte, e, em particular, de fotografia. A diversidade e a qualidade da oferta é impressionante. O carrinho de compras já estava bem recheado, por isso só se comprou Pyongyang, de Charlie Crane, um livro estranho, muito estranho. Propaganda, ou encenação da propaganda?, passe o pleonasmo. O prefácio, escrito por Nicholas Bonner, promotor de viagens à Coreia do Norte, denuncia alguma simpatia por um dos regimes políticos mais atrozes que conhecemos. No entanto, tendo em conta que a empresa de Bonner está sediada em Beijing, o tom do discurso pode ser apenas uma forma de auto-preservação. Quanto ao trabalho de Charlie Crane, não o conhecia, mas vejo ali traços germânicos. Talvez esteja a ser afectado pelo contexto, mas não posso deixar de me lembrar de Sander, de Thomas Weinberger e do casal Becher.


Carlos Miguel Fernandes

10.6.07

A minha Nikon e a Friedrichstrasse

O número de série da minha Nikon F2 diz-me que esta saiu da fábrica em 1973. Chegou-me às mãos em 1991, com um visor Photomic, em boas condições. Teve um pequeno problema no sistema de avanço do filme, poucos meses após a compra, mas depois, só voltou ao mecânico em 2005, depois de uma queda na rua Friedrichstrasse, em Berlim. A pancada no chão afectou o fotómetro (alojado no visor Photomic) e a reparação não foi tarefa fácil porque, sem peças novas fornecidas pelo fabricante, só a canibalização de outras câmaras permite a plena recuperação de uma F2 avariada. Mas o seu funcionamento acabou por voltar à normalidade (não sem antes ter uma recaída desagradável, a meio de uma passagem por Varsóvia); a máquina é rija, e durante os anos que esteve comigo já passou por situações que lhe deixaram algumas amolgadelas.

A robustez da câmara foi atestada há poucos dias em Berlim, novamente na Friedrichstrasse (!), quando a correia da Nikon se soltou (devido a uma negligência indesculpável da minha parte), e o corpo embateu com violência no chão, com a “cabeça” a aguentar o impacto. Resultado: visor Photomic aberto em dois, com as entranhas à vista. Num assomo de esperança e ingenuidade apanhei as duas partes em que o visor se havia separado e encaixei-as o melhor que pude. Foi com pasmo que verifiquei que o fotómetro continuava a funcionar e a medir correctamente a luz. Uma peça maciça dividida em duas, fios de um lado e do outro, metal retorcido, e o “tanque” continuava a trabalhar! Claro que a tristeza foi apenas temporariamente mitigada. Não teria que trabalhar às cegas, como acontecera em 2005, mas percebi logo que o visor Photomic tinha acabado ali os seus dias, no cruzamento da Friedrichstrasse com a Leipziger Strasse. À segunda foi de vez.

Agora procuro substituto para o velho Photomic (ainda estou à espera de uma resposta em relação à possibilidade de soldar o visor quebrado, mas a opção não me parece muito credível). A cotação da câmara cairá a pique com um visor cujo número de série não corresponde ao corpo. Mas, apesar da Nikon F2 já ter entrado na galeria dos aparelhos coleccionáveis, esta máquina ainda é, para mim, ferramenta de trabalho. Por isso, se alguém souber da existência um visor Photomic à venda, agradeço informações.

View to the north from the corner of the Leipziger Strasse/Friedrichstrasse. Apart from the Potsdamer Platz this was one of the liveliest crossroads in the city. With their department stores, shops and bars, both streets were popular with Berliners and tourists. Berlin – Photographien 1880-1930

A imagem em cima mostra onde tudo aconteceu. Esta fotografia do cruzamento da Friedrichstrasse com a Leipzigerstrasse pode ser vista em Berlin – Photographien 1880-1930, uma obra que nos dá uma ideia da cidade que existiu e fervilhou antes de o século XX ter entrado em acção com o seu rolo compressor. Foi um dos bons livros que trouxe da livraria Exlibris. Falarei disso no próximo texto.


Carlos Miguel Fernandes

5.6.07

Berlim

Carlos Miguel Fernandes, Berlim, Junho de 2007

Berlim, no passado fim-de-semana. Em breve, alguns apontamentos sobre os livros de fotografia que comprei na capital alemã. E também sobre a forma como a maldita Friedrichstrasse conseguiu finalmente matar o visor da minha Nikon F2, dois anos após a primeira tentativa.

Carlos Miguel Fernandes