8.8.08

Nova Iorque

Estive recentemente em Nova Iorque. Mão amiga guiou-me, à distância, pelas galerias de fotografia de Chelsea. Fui até ao limite ocidental do bairro, já perto do Hudson, subi elevadores, fiz soar campainhas, encontrei a Bruce Silverstein fechada, e esbarrei com espaços que não estavam na lista obrigatória. Na Robert Mann e na Julie Saul encontram-se agora exposições do acervo. On the refrain, até 22 de Agosto na Mann, recorre aos mestres do preto-e-branco, alguns representados na galeria, para estabelecer relações (refrães) entre autores aparentemente distantes. Há magníficas fotografias vintage, e a concepção da exposição, com uma sequenciação de imagens baseada não só nas formas, mas também noutras sugestões mais subtis, leva-nos num ritmado périplo pelo modernismo da Fotografia da primeira metade do século XX. Paul Arma’s Hands, de André Kertész (1894-1985), é um regalo para os olhos. Podem comprá-la por 4500 dólares, muito menos do que algum lixo contemporâneo que empeçonha os circuitos comerciais da Arte.

André Kertész, Paul Arma's Hands

Na Julie Saul, When the color was new (até 6 de Setembro) ambiciona abranger e mostrar o processo de entrada da cor na idade adulta, quando esta retira ao preto-e-branco a exclusividade nas paredes das galerias e museus. Está lá Eggleston, obviamente, e as polaróides de Walker Evans. When the color was new e On the Refrain, foram as melhores exposições que vi nessa tarde. Antes de ir à Aperture, ainda passei pelas galerias James Mollison, Priska C. Juschka, Folley e Poller, todas com Fotografia nas paredes. A Aperture tinha (a galeria fecha em Agosto) um trabalho de Richard Ross, Architectures of Authorithy, que retrata os espaços de autoridade, de poder, de esmagamento das liberdades individuais. Os livros e as edições limitadas estavam em saldo. Por fim, depois de descansar no BillyMark’s West, ainda arranjei forças para subir a Avenue of the Americas até ao Internacional Center of Photography, onde se encontra uma exposição de fotografia japonesa contemporânea, desigual, e uma mostra de Bill Wood (1913-1973), um fotógrafo comercial, e vendedor de câmaras e acessórios. Da primeira exposição retive os nomes de Naoya Hatakeyama, Risaku Suzuki e Miwa Yanagi, e reforcei uma convicção: no Japão fazem-se livros de Fotografia deslumbrantes, originais, refinados. Bill Wood, o fundador da Bill Wood Photo Company, um fotógrafo do banal recuperado pelos curadores Marvin Heifemann e Diane Keaton, surpreendeu-me. A exposição, evitando inteligentemente uma linha de tempo, mostra-nos um trajecto uniforme, marcado pelas encomendas e por um inusitado rigor formal, mas que ao mesmo tempo parece caminhar ao lado daquilo que se convencionou chamar fotografia vernacular.
E foi tudo, nessa tarde quente de Julho. E foi muito.

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Carlos Miguel Fernandes