Estive recentemente em Nova Iorque. Mão amiga guiou-me, à distância, pelas galerias de fotografia de Chelsea. Fui até ao limite ocidental do bairro, já perto do Hudson, subi elevadores, fiz soar campainhas, encontrei a Bruce Silverstein fechada, e esbarrei com espaços que não estavam na lista obrigatória. Na Robert Mann e na Julie Saul encontram-se agora exposições do acervo. On the refrain, até 22 de Agosto na Mann, recorre aos mestres do preto-e-branco, alguns representados na galeria, para estabelecer relações (refrães) entre autores aparentemente distantes. Há magníficas fotografias vintage, e a concepção da exposição, com uma sequenciação de imagens baseada não só nas formas, mas também noutras sugestões mais subtis, leva-nos num ritmado périplo pelo modernismo da Fotografia da primeira metade do século XX. Paul Arma’s Hands, de André Kertész (1894-1985), é um regalo para os olhos. Podem comprá-la por 4500 dólares, muito menos do que algum lixo contemporâneo que empeçonha os circuitos comerciais da Arte.
Na Julie Saul, When the color was new (até 6 de Setembro) ambiciona abranger e mostrar o processo de entrada da cor na idade adulta, quando esta retira ao preto-e-branco a exclusividade nas paredes das galerias e museus. Está lá Eggleston, obviamente, e as polaróides de Walker Evans. When the color was new e On the Refrain, foram as melhores exposições que vi nessa tarde. Antes de ir à Aperture, ainda passei pelas galerias James Mollison, Priska C. Juschka, Folley e Poller, todas com Fotografia nas paredes. A Aperture tinha (a galeria fecha em Agosto) um trabalho de Richard Ross, Architectures of Authorithy, que retrata os espaços de autoridade, de poder, de esmagamento das liberdades individuais. Os livros e as edições limitadas estavam em saldo. Por fim, depois de descansar no BillyMark’s West, ainda arranjei forças para subir a Avenue of the Americas até ao Internacional Center of Photography, onde se encontra uma exposição de fotografia japonesa contemporânea, desigual, e uma mostra de Bill Wood (1913-1973), um fotógrafo comercial, e vendedor de câmaras e acessórios. Da primeira exposição retive os nomes de Naoya Hatakeyama, Risaku Suzuki e Miwa Yanagi, e reforcei uma convicção: no Japão fazem-se livros de Fotografia deslumbrantes, originais, refinados. Bill Wood, o fundador da Bill Wood Photo Company, um fotógrafo do banal recuperado pelos curadores Marvin Heifemann e Diane Keaton, surpreendeu-me. A exposição, evitando inteligentemente uma linha de tempo, mostra-nos um trajecto uniforme, marcado pelas encomendas e por um inusitado rigor formal, mas que ao mesmo tempo parece caminhar ao lado daquilo que se convencionou chamar fotografia vernacular.
E foi tudo, nessa tarde quente de Julho. E foi muito.
(Outras histórias de Nova Iorque aqui.)
E foi tudo, nessa tarde quente de Julho. E foi muito.
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Carlos Miguel Fernandes