E foi tudo, nessa tarde quente de Julho. E foi muito.
(Outras histórias de Nova Iorque aqui.)
Carlos Miguel Fernandes
— Bem, na verdade a fotografia é uma coisa maravilhosa, quando se começa a pensar.
James Joyce, Gente de Dublin
Portugal teve um lugar de destaque na projecção de Luísa Monléon (Zaragoza, 1979). A fotógrafa espanhola (novo talento FNAC 2008) mostrou-nos um retrato sombrio de Portugal, com fugazes raios de luz. Há um claro contraste com a imagem que os portugueses têm do seu país, tantas vezes visto com um lugar de sol e alegria, mas que é olhado, desde esta Espanha eufórica e colorida, como a parcela mais melancólica da península. O fado, escutado com muita atenção deste lado da fronteira, reforça essa visão escura, e talvez certeira, do “país das praias”.
Carlos Miguel Fernandes
De Lo Humano – Fotografia Internacional 1900-1950. This is the name of the exhibition on display in Málaga’s Picasso Museum, until May 25. Curated by Ute Eskildsen, De Lo Humano follows a long line of humanistic exhibitions inspired by the celebrated Family of Man (commissioned by Edward Steichen in 1955, at Museum of Modern Art, New York). Eskildsen gathered 111 images, mostly portraits and self-portraits, from 68 photographers. The aim of De Lo Humano is to provide a journey through Photography’s representation of human being, an overview of men’s fascination with Man during the first half the XX century, after Kodak’s “democratization” of the medium. The core theme is centered on the human image, but the exhibition gathers rather different approaches to the subject: the pictorialism of Steichen and Alvin Langdon Coburn, Lászlo Moholy-Nagy and Man Ray’s experimentalism, the lively streets photographed by Henri-Cartier Bresson and Robert Frank, August Sander’s portraits of German society. André Kertesz, Alexander Rodtchenko, Imogen Cunningham, Cecil Beaton, Brassaï and many others also contributed to De Lo Humano – Fotografia Internacional 1900-1950.
Carlos Miguel Fernandes
No último domingo passei pelo Centro Cultural da Caja Granada para ver a exposição Luz Sobre Papel, de J. Laurent (1816-1892). Lá voltarei, pois estava um pouco febril e a visita foi breve, tendo servido principalmente para comprar o excelente catálogo, com 300 páginas e óptimas reproduções das imagens de Granada e do Alhambra presentes na exposição. Laurent, uma espécie de Francis Frith da Península Ibérica, residiu durante grande parte da sua vida em Madrid, e daí partiu para inúmeras viagens, as quais resultaram em álbuns com fotografias de Espanha, Portugal e Marrocos (alguns, fantásticos, podem ver-se na exposição). Posso andar distraído, mas nunca ouvi falar muito de J. Laurent em Portugal (à excepção dos sempre atentos e bem informados António e Ângela). Pelo que me foi dado a ver aqui em Granada, penso que é um nome que urge resgatar da poeira da História da fotografia portuguesa. Vou ler o catálogo com atenção, vou ver novamente a exposição, e se algo o justificar voltarei ao assunto.
J. Laurent
Carlos Miguel Fernandes
Carlos M. Fernandes, Gulfoss, Islândia, 2006
Carlos Miguel Fernandes
O médico segurou os braços das cadeiras a mãos ambas, apertou os músculos da barriga, fechou as pálperas com força, e tal como costumava fazer diante do sofrimento, da angústia e da insónia, pôs-se a imaginar o mar.
António Lobo Antunes, Memória de Elefante
Contemplação. Confronto. Fusão. Recusa e agregação. É com estas linhas que Atlas se tece. Tendo o Atlântico como pretexto, a narrativa percorre as intrincadas relações do Homem com o ambiente que o rodeia e com as forças indomáveis que o subjugam e arrastam para o abrigo. Aí, agregado nas urbes, confronta então outra energia menos palpável, que se revela nas ondas impiedosas de demónios interiores que o mergulham num estado de solidão ilusório. O Atlântico — território de pescadores, brisas gélidas e contos heróicos — é apenas um dos palcos desta tragoidia, um lugar de contemplação mas também de confronto, onde o Homem enfrenta a natureza pura com o seu engenho e engenhos, e os seus desejos interiores com a graça de um guerreiro. Mas, ao contrário do que aconteceu na Guerra do Titãs, não há vencedores nesta batalha eterna. Há apenas o ciclo da vida e da morte.
Carlos Miguel Fernandes, Blue Lagoon, Iceland, 2006
Carlos Miguel Fernandes
Thomas Weinberger, Cracker, Esso Raffinerie, 2003
Carlos Miguel Fernandes