Vamos olhar agora com mais atenção para os livros que vieram de Amsterdão.
Photographies de Henri Cartier-Bresson foi editado em 1963 pela
Delpire e reproduz os textos que fizeram o celebrado prefácio de
Images à la Sauvette (
The Decisive Moment, título da edição inglesa). O livro começa com a famosa frase:
Une photographie est pour moi la reconnaissance simultanée, en une fraction de seconde, d'une part de la signification d'un fait, et de l'autre, d'une organisation rigoureuse des formes perçues visuellement qui expriment ce fait. Seguem-se os textos, e quarenta e sete fotografias que percorrem a obra de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) desde 1932 até 1961, ano em que o fotógrafo captou uma das suas mais prodigiosas imagens, o retrato do escultor Alberto Giacometti (1901-1966). Capa dura e boas impressões num papel razoável fazem de Photographies de Henri Cartier-Bresson um estimável objecto de colecção.
Henri Cartier-Bresson, Alberto Giacometti, 1961
A primeira grande retrospectiva do trabalho de Jacques Henri-Lartigue (1894-1986) em terras francesas ficou registada no pequeno catálogo 8x80, com edição da Delpire e prefácio de Michel Frizot. Patente ao público em 1975 no Musée des Arts Decoratifs, em Paris, a exposição contou com cerca de duzentas fotografias, das quais foram seleccionadas sessenta e uma para integrar o catálogo. O papel é óptimo e as provas estão perto da perfeição.
Lewis Carroll (1832-1898) é famoso como autor dos livros Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho. Menos conhecida é sua actividade como professor de matemática, mas uma leitura cuidada dos textos revela uma ligação à lógica, à ciência, ao xadrez; e ainda hoje os dois livros são terreno fértil de metáforas para paradigmas e teorias. (O termo Red Queen Effect, que designa uma teoria da biologia evolutiva cada vez mais contestada que pretende explicar alguns fenómenos como a emergência e vantagem do sexo no processo de evolução, foi inspirado num episódio do livro Alice do Outro Lado do Espelho.) A sua obra fotográfica, centrada no retrato, encontra-se também na sombra do sucesso dos livros de Alice, mas tem argumentos para nos pedir um olhar atento. A afinidade com o trabalho de Julia Margaret Cameron (1815-1879) é notória, não só nas formas como no método: Lewis Carroll, tal como a fotógrafa inglesa, encontrava naqueles que lhe estavam próximo os motivos dos seus estudos fotográficos. As crianças ocupam grande parte do seu trabalho, e Alice Liddel, a Alice que inspirou os seus livros, faz parte da extensa galeria de retratados (que inclui também Julia Margaret Cameron). Lewis Carroll, Photographer começa com um texto de Helmut Gernsheim sobre o autor integrando-o na História da Fotografia inglesa. Seguem-se sessenta e três retratos, onde não falta Alice Liddel, nem o xadrez, uma das paixões de Carroll: o notável The Misses Lutwidge, 1859, mostra as tias do fotógrafo no “meio jogo” de uma partida de xadrez. Este livro agora adquirido em Amsterdão junta-se a uma das peças mais estimadas da biblioteca, a qual encontrei em Lubliana há alguns anos. Chama-se Lewis Carroll, foi editado pelo British Council em 1998, no centenário da morte do artista, e junta ensaios de Marina Werner, Roger Taylor e Michael Bakewell, para além de vinte e quatro imagens.
No livro Stielglitz – a memoir/biography, de Sue Davidson Lowe, podemos encontrar, para além da biografia do grande fotógrafo e galerista americano Alfred Stieglitz (1864-1946), alguns retratos por ele executados, nos quais se incluem dois auto-retratos e uma inevitável fotografia da pintora Gergia O’Keefe (1887-1986), a mulher com quem esteve casado durante mais de duas décadas, até à sua morte em 1946.
Kindred Spirits, Hungarian Photographers 1914-2003 é o catálogo de uma exposição sobre fotografia húngara comissariada por Péter Nadas (1942-) que esteve em exibição no Museu de Fotografia de Hague entre Setembro de 2004 e Janeiro de 2005. Budapeste é uma cidade que tenho visitado com regularidade nos últimos anos e de onde tenho trazido algumas referências que vou guardando na prateleira. No entanto, é fácil esquecer que a Hungria já nos deu fotógrafos como Robert Capa (1913-1954), Brassai (1899-1984), Kertész (1894-1985) e Moholy-Nagy (1895-1946), pois tais nomes foram internacionalizadas e fazem agora parte do património da humanidade. O livro guarda excelentes reproduções de alguns trabalhos dos autores citados, e de outros, como Márta Rédner (1909-1991), Martin Munkasci (1896-1963), e até Péter Nádas, o comissário da exposição e autor dos textos que acompanham as fotografias. Talvez os ensaios de Nádas me ajudem a reunir e a entender o material que tenho trazido de Budapeste.
Carlos Miguel Fernandes