O médico segurou os braços das cadeiras a mãos ambas, apertou os músculos da barriga, fechou as pálperas com força, e tal como costumava fazer diante do sofrimento, da angústia e da insónia, pôs-se a imaginar o mar.
António Lobo Antunes, Memória de Elefante
Contemplação. Confronto. Fusão. Recusa e agregação. É com estas linhas que Atlas se tece. Tendo o Atlântico como pretexto, a narrativa percorre as intrincadas relações do Homem com o ambiente que o rodeia e com as forças indomáveis que o subjugam e arrastam para o abrigo. Aí, agregado nas urbes, confronta então outra energia menos palpável, que se revela nas ondas impiedosas de demónios interiores que o mergulham num estado de solidão ilusório. O Atlântico — território de pescadores, brisas gélidas e contos heróicos — é apenas um dos palcos desta tragoidia, um lugar de contemplação mas também de confronto, onde o Homem enfrenta a natureza pura com o seu engenho e engenhos, e os seus desejos interiores com a graça de um guerreiro. Mas, ao contrário do que aconteceu na Guerra do Titãs, não há vencedores nesta batalha eterna. Há apenas o ciclo da vida e da morte.
Atlas e a P4Photography têm as portas abertas. Até 10 de Janeiro no n. 16 da Rua dos Navegantes. De Carlos Miguel Fernandes, João Mariano e Rui Fonseca. Livro Atlas com texto de Madalena Lello.
Carlos Miguel Fernandes
2 comentários:
não pude ir à inauguração mas passei por lá hoje. Parabéns, o espaço está fantástico! Gostei muito da cor do chão, da apresentação das fotografias e daquele páteo com o diospireiro...é mesmo simpático. Acho que podiam fazer uns posters de algumas fotografias para os jovens pelintras.
Foi pena eu não estar lá para te fazer uma visita guiada!
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