Edouard Boubat, Nazaré 1956
Carlos Miguel Fernandes
— Bem, na verdade a fotografia é uma coisa maravilhosa, quando se começa a pensar.
James Joyce, Gente de Dublin
Edouard Boubat, Nazaré 1956
Carlos Miguel Fernandes
J. Laurent, Catedral de Toledo
Carlos Miguel Fernandes
No último domingo passei pelo Centro Cultural da Caja Granada para ver a exposição Luz Sobre Papel, de J. Laurent (1816-1892). Lá voltarei, pois estava um pouco febril e a visita foi breve, tendo servido principalmente para comprar o excelente catálogo, com 300 páginas e óptimas reproduções das imagens de Granada e do Alhambra presentes na exposição. Laurent, uma espécie de Francis Frith da Península Ibérica, residiu durante grande parte da sua vida em Madrid, e daí partiu para inúmeras viagens, as quais resultaram em álbuns com fotografias de Espanha, Portugal e Marrocos (alguns, fantásticos, podem ver-se na exposição). Posso andar distraído, mas nunca ouvi falar muito de J. Laurent em Portugal (à excepção dos sempre atentos e bem informados António e Ângela). Pelo que me foi dado a ver aqui em Granada, penso que é um nome que urge resgatar da poeira da História da fotografia portuguesa. Vou ler o catálogo com atenção, vou ver novamente a exposição, e se algo o justificar voltarei ao assunto.
J. Laurent
Carlos Miguel Fernandes
Carlos M. Fernandes, Gulfoss, Islândia, 2006
Carlos Miguel Fernandes
Carlos M. Fernandes, Seul, 2007
Por isso, ao contrário do que a minha expressão “passagem forçada” pode dar a entender, penso que o curador de Lee Sang Ill faz muito bem quando tenta arrastar um trabalho de carácter marcadamente fotográfico (hoje já não há fotógrafos, há artistas que usam a fotografia!) para um território estranho. Goste-se ou não do estilo, pelo menos injecta um pouco de vida num ambiente que revela sintomas de indolência e superficialidade. A fotografia documental e a fotografia de arquitectura/”paisagem urbana” são talvez duas das grandes forças que podem agitar a Arte Contemporânea, retirá-la deste marasmo, e ao mesmo tempo aliviar a Fotografia das grilhetas que alguns dos seus agentes lhe impuseram. Como diz um amigo, bom entendedor e amante da arte fotográfica como poucos em Portugal, uma “fotografia é apenas um pedaço de papel”. Se desmistificarmos esse pedaço de papel dar-lhe-emos, paradoxalmente, o valor que tem perdido nas últimas décadas. Basta varrer o lixo em redor.
Carlos Miguel Fernandes
Bern e Hilla Becher, Kuhlturme, 1967-73
Andreas Gursky, 99 Cent II Diptychon (imagem esquerda), 2001
Carlos Miguel Fernandes
O médico segurou os braços das cadeiras a mãos ambas, apertou os músculos da barriga, fechou as pálperas com força, e tal como costumava fazer diante do sofrimento, da angústia e da insónia, pôs-se a imaginar o mar.
António Lobo Antunes, Memória de Elefante
Contemplação. Confronto. Fusão. Recusa e agregação. É com estas linhas que Atlas se tece. Tendo o Atlântico como pretexto, a narrativa percorre as intrincadas relações do Homem com o ambiente que o rodeia e com as forças indomáveis que o subjugam e arrastam para o abrigo. Aí, agregado nas urbes, confronta então outra energia menos palpável, que se revela nas ondas impiedosas de demónios interiores que o mergulham num estado de solidão ilusório. O Atlântico — território de pescadores, brisas gélidas e contos heróicos — é apenas um dos palcos desta tragoidia, um lugar de contemplação mas também de confronto, onde o Homem enfrenta a natureza pura com o seu engenho e engenhos, e os seus desejos interiores com a graça de um guerreiro. Mas, ao contrário do que aconteceu na Guerra do Titãs, não há vencedores nesta batalha eterna. Há apenas o ciclo da vida e da morte.
Meu pai morreu mal eu tinha completado os seis anos e apagou-se-me da memória toda e qualquer imagem sua, substituída – apagada, talvez – por imagens artísticas ou artificiais, as das fotografias; e entre outras a de um
daguerreótipo dos seus tempos de rapaz, era ele então apenas filho, também. Se bem que nem toda a imagem sua me tivesse desvanecido, confusamente, embora, e numa névoa oceânica, sem rasgos distintos, ainda o vislumbro num momento em que me foi dado a descobrir, era eu bem pequenino, o mistério da linguagem.
Robert Frank, Andrea, Pablo, Mary, Texas, 1956
Como terão sobrevivido, na memória de Frank, as imagens dos filhos? Ter-se-ão mantido, ilusoriamente, reais, vivas? Ou terão sido também substituídas por ícones artificiais?, produtos contrafeitos pela estrutura cerebral de um criador de imagens sem cor, e inspirados em recordações tão perfeitas como a fotografia referida, na qual Robert Frank congelou, num qualquer lugar do Texas, e para a eternidade, as expressões daqueles que o seguiam na grande aventura. Todas as famílias têm fotografias assim. Enquanto posavam, estavam todos protegidos pelo espaço de alguns segundos e estes segundos tornaram-se uma realidade. Da simplicidade destas palavras de Patrick Modiano, em Dora Bruder, solta-se uma sageza triste e solitária, que não é mais do que resignação perante o inevitável drama humano.
Robert Frank nasceu em 1924 em Zurich. Em 1947 parte para Nova Iorque, onde trabalha na Harper’s Bazaar, Fortune, Life e Look. Em 1955 e 1956, graças à obtenção de a uma bolsa Guggenheim, viaja exaustivamente pelos Estados Unidos da América. Dessa viagem resulta o livro Les Americains, publicado em 1958 em França e Itália. Mal recebido nos Estados Unidos, onde foi rotulado de anti-americano, o livro só chegaria à terra dos retratados no ano seguinte, prefaciado por Jack Kerouac. Marco enorme na História da Fotografia, a obra serviu de charneira no percurso de Frank: em 1960, guarda a Leica e passa a dedicar-se apenas à realização de filmes. Mas o fotógrafo não encontrou na vida um eco do seu sucesso como artista. Para além da perda de dois filhos, Frank teve que lidar com a deficiência mental do seu irmão, experiência dolorosa que retratou em Me and My Brother, filme concluído em 1968.
Regressa à Fotografia em 1972. Abandona o estilo que o consagrou, renega a herança de Walker Evans, e inicia um período menos formal, de menor pendor documental e fortemente marcado pelos cruéis acontecimentos que devastam a sua vida pessoal e pelo ambiente gélido e agreste que rodeia o seu refúgio na Nova Escócia, a casa que havia comprado, em 1970, com June Leaf, a sua mais recente companheira (e com quem se casa em 1975).
Robert Frank ainda vive com June Leaf em Mabou, Nova Escócia.
Carlos Miguel Fernandes
Carlos Miguel Fernandes, Blue Lagoon, Iceland, 2006
Carlos Miguel Fernandes
João Mariano (Atlas)
Carlos Miguel Fernandes, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2004 (de I-S-T 95-75-15)
Mathew Brady, Lincoln, 1864
Carlos Miguel Fernandes, Trafalgar Square, Londres, Julho de 2007
No sábado passado estava, por volta das três da tarde, em frente da Catedral St. Paul, em Londres. Durante uns instantes, olhei para aquela multidão que se agregava nas escadas e na entrada do enorme edifício e senti um arrepio. Como é possível um ser humano sujeitar-se a tais tempos de espera e encontrões?, pensei. No mesmo instante reparei que também eu estava ali, no meio daquela romaria, e, sendo verdade que não pretendia entrar, não me podia esquecer que, de alguma forma, seguira uma espécie de corrente que me trouxera até àquela praça. Não entrei na St. Paul, tal como nunca tive paciência para enfrentar as filas que se formam à entrada da Uffizi, em Florença. Mas já estive na Catedral de S. Estevão, em Budapeste, e no Rainha Sofia de Madrid, entre tantos e tantos lugares eleitos por aquele bando para o qual eu agora olhava com comiseração. Mas eu sou, afinal, um deles.
One of us, one of us, é a ladainha aterradora que os deformados de Freaks, de Todd Browning, repetem enquanto se aproximam da mulher “normal”. O verdadeiro monstro é, afinal, essa mulher. Tal como os verdadeiros “coitados” são aqueles que olham para o turismo de massas com repulsa, como uma ameaça da globalização. São patéticos, esses cardumes de turistas de máquina em riste? (Os japoneses foram gozados durante anos devido à forma compulsiva como disparavam as câmaras, mas agora, na era digital, somos todos japoneses de dedo nervoso, não é?). Talvez. Mas somos nós. Martin Parr sabe isso e não (n)os olha com desdém. Porque é um de nós, one of us. E mesmo que não fosse, é um cavalheiro, e um cavalheiro não goza com os outros. Prefere procurar o sublime.
Carlos Miguel Fernandes
O último livro da Exlibris é Photography: Crisis of History, uma colectânea de ensaios coordenada por Joan Fontcuberta. (Um dos textos é de Teresa Siza.) Por este, e pelos três livros descritos atrás, gastou-se 37 euros. Não se pode dizer que tenha sido caro.
Pouco depois de sair da Exlibris descobri a Gawronski Buchhandlung, situada no número 119 da Friedrichstrasse (na Friedrichstrasse, dada a dimensão da rua, é importante saber do número da porta dos lugares que procuramos), e que estranhamente me passou ao lado nas anteriores deslocações a Berlim. Tal como a Exlibris, a Gawronski é especializada em livros de arte, e, em particular, de fotografia. A diversidade e a qualidade da oferta é impressionante. O carrinho de compras já estava bem recheado, por isso só se comprou Pyongyang, de Charlie Crane, um livro estranho, muito estranho. Propaganda, ou encenação da propaganda?, passe o pleonasmo. O prefácio, escrito por Nicholas Bonner, promotor de viagens à Coreia do Norte, denuncia alguma simpatia por um dos regimes políticos mais atrozes que conhecemos. No entanto, tendo em conta que a empresa de Bonner está sediada em Beijing, o tom do discurso pode ser apenas uma forma de auto-preservação. Quanto ao trabalho de Charlie Crane, não o conhecia, mas vejo ali traços germânicos. Talvez esteja a ser afectado pelo contexto, mas não posso deixar de me lembrar de Sander, de Thomas Weinberger e do casal Becher.
Carlos Miguel Fernandes
View to the north from the corner of the Leipziger Strasse/Friedrichstrasse. Apart from the Potsdamer Platz this was one of the liveliest crossroads in the city. With their department stores, shops and bars, both streets were popular with Berliners and tourists. Berlin – Photographien 1880-1930
A imagem em cima mostra onde tudo aconteceu. Esta fotografia do cruzamento da Friedrichstrasse com a Leipzigerstrasse pode ser vista em Berlin – Photographien 1880-1930, uma obra que nos dá uma ideia da cidade que existiu e fervilhou antes de o século XX ter entrado em acção com o seu rolo compressor. Foi um dos bons livros que trouxe da livraria Exlibris. Falarei disso no próximo texto.
Carlos Miguel Fernandes
Embora um ampliação, que me deu em Praga a sobrinha de Franz, tenha para mim um valor especial, nem por isso deixa de ser uma fotografia muito conhecida, a mesma, sem dúvida, a que Borges aludiu, nessa noite de que te falei, em Buenos Aires, e onde se vê Kafka, de pé sobre o empedrado, em frente a uma loja com o letreiro de Herman Pollak: veste um fato de três peças cinzento, um casaco escuro, tem um colarinho redondo e um gravata – aparentemente a mesma roupa que noutra fotografia onde está encostado ao pedestal de uma coluna, com a sua irmã Ottla -, e um chapéu cuja sombra lhe desce precisamente, sobre o rosto, até aquela linha debaixo dos olhos, deixando na luz a boca grande de sorriso triste,
o nariz, e o lóbulo inferior das orelhas.
Olivier Rolin, O Bar da Ressaca
Provavelmente, é esta a imagem que Rolin descreve em O Bar da Ressaca, obra que vagueia por Praga, Buenos Aires e Trieste, num delírio de palavras etílicas. (Não é claramente visível na reprodução, mas, no pequeno letreiro branco, junto ao ombro direito de Kafka, pode ler-se “Herman Pollak”.)
Praga, a cidade de Kafka. Será? Uma outra leitura da obra do escritor judeu pode levar-nos por diferentes caminhos, os quais talvez até se bifurquem.
Em 1923, numa carta à sua irmã Ottla, Kafka falava numa cidade que amava, mas também temia. Praga era a sua prisão, a sua colónia penitenciária, a sua tortura, o rosto da infelicidade, a matrona perfeita que, emparelhada com o seu pai, tão bem representava a tirania da família autoritária da Europa germânica e judia.
Praga vende Kafka e Kafka vende Praga, mas o autor nunca escreveu na língua checa. O fantasma de Kafka persegue o turista em cada esquina de Praga, e ao seu nome estão associadas inúmeras casas no centro da capital da Boémia. Mas as palavras de Kundera, (...) sobre Franz Kafka (que, infeliz a vida toda na cidade, se tornara graças às agências de viagens, no seu santo padroeiro) (...) talvez sejam mais verdadeiras do que uma leitura apressada do seu desabafo possa levar a crer. Kafka viveu aqui, Kafka trabalhou ali, Kafka escreveu O Castelo acolá...Kafka viveu e morreu como um cão nesta cidade.
A segunda imagem que Rolin descreve pode ser esta.
O escritor com Ottla, a sua irmã favorita. Um sorriso raro nos lábios. Um conforto fraterno, longe da mãe-cidade e do deus-pai.
Carlos Miguel Fernandes
P.S. Estas duas fotografias, e outras imagens de Kafka e de Praga, podem ser encontradas no livro A Praga de Franz Kafka, de Klaus Wagenbach, traduzido e editado em Portugal pela Fenda em 2001.
(Capa do catálogo, com uma imperdoável gralha, editado por ocasião da primeira exposição do nível 3 do curso de fotografia do NAF, em 1998.)
Informações: naf.ist@gmail.com
NAF
José M. Rodrigues, Odivelas-1997. Awarded photographer: Vrije Creatieve Opdracht 1982 (Holland), Prémio Pessoa 1999 (Portugal). 57 x 45cm.
Carlos Miguel Fernandes
Carlos Miguel Fernandes, Timisoara, Roménia, 2004
Carlos M. Fernandes+Vitorino Ramos, Self-regulated Swarm#2
Quem estiver interessado na parte científica do projecto, pode consultar os seguintes artigos:
Carlos Fernandes, Vitorino Ramos and Agostinho C. Rosa, Self-Regulated Artificial Ant Colonies on Digital Image Habitats, in Int. Journal of Lateral Computing, IJLC, vol. 2, nº 1, pp. 1-8, ISSN 0973-208X, Dec. 2005.
Vitorino Ramos, Filipe Almeida, Artificial Ant Colonies in Digital Image Habitats - A Mass Behaviour Effect Study on Pattern Recognition, Proceedings of ANTS´2000 - 2nd International Workshop on Ant Algorithms (From Ant Colonies to Artificial Ants), Marco Dorigo, Martin Middendorf & Thomas Stüzle (Eds.), pp. 113-116, Brussels, Belgium, 7-9 Sep. 2000.
Posso adiantar que as formigas em causa têm apenas percepção local, “vêm” só, em determinado instante, o pixel onde estão colocadas e os pixels circundantes. Não há controlo centralizado do enxame. A imagem emerge através da interacção do formigueiro com o ambiente.
Carlos Miguel Fernandes
Afinal, Carlos, depois de fechar a porta, pediu-lhe que fosse pessoalmente a Ruão a fim de saber quais poderiam ser os preços de um bom daguerreótipo; era uma surpresa sentimental que reservava à sua mulher, uma atenção fina, o seu retrato, de casaca. Mas queria primeiro saber, para fazer os cálculos; essas passadas não deviam custar muito a Leão, porque era rara a semana que não ia à cidade.
O daguerreótipo foi a primeira forma popular de fotografia. O termo pode designar o resultado final ou o processo, o qual se caracterizava por produzir provas únicas de elevada qualidade. A sua invenção foi comunicada ao mundo no dia 6 de Janeiro de 1939 (19 de Agosto foi a data oficial do anúncio e da divulgação dos pormenores do processo) pela Academia de Ciências francesa. O invento (e a sua designação) ficarão para sempre associados ao nome de Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), mas a injustiça é evidente se nos lembrarmos que foi Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) quem desenvolveu as bases teóricas, técnicas e científicas do processo.
Enquanto a Fotografia que nos habituámos a conhecer até à chegada da era digital se baseava no princípio do negativo-positivo e nas inúmeras reproduções que podiam ser feitas a partir uma imagem, o daguerreótipo resultava num exemplar único em positivo com uma óptima definição de pormenores. E se este apuro lhe garantiu uma popularidade inabalável durante os anos quarenta do século XIX, relegando o negativo-positivo para uma evolução paralela com poucos adeptos entre os profissionais, o carácter único das provas acabou por ser umas das causas do seu declínio quando o processo concorrente se aperfeiçoou até chegar a um nível que satisfez os fotógrafos. Estes, maioritariamente envolvidos no negócio do retrato e bem servidos pelo daguerreótipo, não estavam interessados nas imperfeições e nos longos tempos de exposição inerentes aos primeiros passos do processo alternativo e exigiam mais.
O pioneiro do método fotográfico baseado no princípio negativo-positivo foi o inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877). A técnica que Talbot desenvolveu envolvia imagens em negativo e reproduções em positivo, ambas sobre papel, mas a fraca definição das provas finais e a impossibilidade de utilização livre do método (Talbot patenteara a sua invenção e exigia o pagamento de direitos de autor a quem utilizasse comercialmente o seu método fotográfico) mantiveram a calotipia, também conhecida por talbotipia, e outras técnicas herdeiras do processo longe da preferência dos fotógrafos profissionais durante mais de uma década. No entanto, o seu paradigma acabaria por vingar, dominando grande parte da História da Fotografia; a daguerreotipia como método preferido pelos fotógrafos profissionais acabaria por ser substituída durante os anos cinquenta do século XIX pelos negativos de colódio húmido em vidro e provas de albumina. Foi Frederich Scott Archer (1813-1857) quem deu o derradeiro impulso na queda da daguerreotipia, ao usar colódio húmido em vez da habitual albumina na ligação dos sais de prata ao vidro, aumentado a qualidade das reproduções e diminuindo as dificuldades técnicas. No entanto, a albumina continuou a ser usada no papel para as provas em positivo durante mais algumas décadas, até ser substituída pelo papel de fabrico industrial nos anos oitenta do século XIX.
Hippolyte Bayard, Autoportrait en noyé, 1840
Um resumo dos primórdios da História da Fotografia não pode estar completo sem o nome de Hippolyte Bayard (1801-1887). Bayard, o mais ignorado dos quatro inventores da Fotografia, foi também esquecido pela Academia das Ciências francesa que, em 1839, e protegendo Daguerre, só lhe atribuiu uma bolsa de 600 francos pelas suas descobertas (Daguerre e Isidore Niépce, filho de Joseph Niépce, conseguiram rendas vitalícias de 6000 e 4000, respectivamente). Ficou para História da Fotografia o auto-retrato apócrifo de Bayard, onde este escreveu: Le gouvernement qui avait beaucoup trop donné à M. Daguerre a dit ne rien pouvoir faire pour M. Bayard et le malheureux s'est noyé. (O governo, que deu demasiado ao senhor Daguerre, disse nada poder fazer em favor do senhor Bayard e o infeliz afogou-se.)
Carlos Miguel Fernandes